sexta-feira, 6 de maio de 2016

Não adentre a boa noite apenas com ternura

Não adentre a boa noite apenas com ternura,
Não entres nessa noite acolhedora com doçura,
Pois a velhice queima e clama ao cair do dia;
Fúria, fúria contra a luz cujo esplendor já não fulgura.

Embora os sábios, no fim da vida, saibam que é a escuridão que perdura,
Porque suas palavras não capturaram a centelha tardia,
Não adentram nessa boa noite apenas com ternura.

Os bons que, após o último aceno, choram pela alvura
Com que seus frágeis atos bailariam numa verde baía,
Lute, lute contra a luz cujo esplendor já não fulgura.

Os loucos que roubaram e cantaram o sol na altura
E aprenderam, tarde demais, que o lamento toma a sua via,
Não entram tão gentilmente nessa boa noite escura.

Os graves, em seu fim, enxergam com olhar que perfura,
O olho quase cego a brilhar como meteoro, então, se alegraria,
Luta, luta contra a morte da luz que já não fulgura.

E a ti, meu pai, te imploro agora, do alto e acima de tudo que perdura,
Que me abençoes e maldigas com a tua lágrima, eu pediria:
Não entres nessa noite acolhedora com doçura,
Odeie, odeie a luz cujo esplendor já não fulgura.


- Dylan Thomas

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